O teatro da Neurose




O lugar para onde me retiro com os meus botões (...)
é um teatro em pleno vento, povoado de uma multitude donde saem,
como a espuma na extremidade das vagas, o murmúrio entrecortado
da palavra, os gritos, os risos, as turbilhões, as tempestades,
a repercussão dos balanços planetários e os esplendores excitados
da música. Esse teatro, que eu percorro secretamente desde os meus
mais jovens anos, sem lhe atingir as fronteiras, tem duas faces,
inseparáveis mas opostas, um direito e um avesso,
semelhantes às de uma medalha ou de um espelho.
in Les tours de Trébizonde et autres textes, NRF, Gallimard, Paris, 1983
Catherine Chabert, através da análise Freudiana, acrescenta: O novo mundo exterior fantasmático da psicose quer colocar-se no lugar da realidade exterior; pelo contrário, o da neurose gosta de se apoiar, como no jogo da criança, sobre um fragmento da realidade - um outro contra o qual se deve defender - dá-lhe uma particular importância e um sentido secreto ao qual, através de um termo nem sempre apropriado, chamamos simbólico. E acrescenta ainda: Estas considerações sublinham, uma vez mais, a dupla inscrição na realidade externa e no mundo fantasmático interno, bem como a instalação de um sistema de relações de um a outro que se define como uma relação simbólica. Esta implica uma diferenciação tópica entre consciente/pré-consciente e inconsciente que se traduz, claro está, num ter em conta a realidade exterior (através dos fatores que atrás citámos: a neurose gosta de se apoiar num fragmento da realidade), ao mesmo tempo que preserva o "sentido secreto", o do teatro privado no seio do qual se desenrolam encenações fantasmáticas.
in a Psicopatologia à prova no Rorschach, Climepsi Editores



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