Beth Hart & Cristina Guedes


Mama This One's For You
Mãe, esta é para ti.

Hoje a Eva completa 79 anos.
Parabéns a ela.
Quem me conhece, sabe o quanto amo esta "rapariga", o ventre sagrado que nos traz à vida merece as homenagens todas.
Tenho uma mãe imperfeita que nasceu para servir os outros, mas não para ser mãe ou avó. 
A carreira e as dificuldades da vida impuseram-se e gritaram mais alto no seu percurso. E não, não há MÃES PERFEITAS.
Aos cinco anos de idade, ficou órfã de pai, aos dez órfã de mãe. Os irmãos todos mais velhos não foram pais para ela, na verdade tinham a sua própria vida e muito à custa disso, a minha mãe acredita que os irmãos são panos para as mãos. Não para mim, mas foi isso que ficou no registo dela. Não soube estar presente nos momentos cruciais da vida dos seus filhos e acredito que, muito por causa do que viveu. Como dar o que não temos? O que a vida se recusou em dar-nos?
Em seguida, aos trinta e um anos perdeu o marido, meu pai e, nem refeita da perda do companheiro que lhe deixou três filhos, três responsabilidades acrescidas, perdeu o seu filho mais novo, meu irmão, com a idade de onze anos, a mesma patologia fatal do meu pai, um coração doente. Nunca a vi fazer o luto por nenhum deles, somatizou e toma medicação antidepressiva até hoje, em doses alarves. 
Dedicou-se à carreira profissional, ganhar dinheiro para que nada faltasse aos filhos. Crescemos sem amor de pai e com um amor material de mãe, ainda hoje entendo as minhas limitações e sofrimento. E tentei sempre proteger os meus irmãos, enquanto pude. Fui vítima de tentativa de abuso de um companheiro dela. Sobrevivi. Não lhe tenho ódio. Libertei. A vida soma e segue. As mães também erram.
Tento entendê-la nestas peculiaridades e perdoar o que ficou em falta. Por mim, está perdoada.
Tentou proteger-nos e cuidar-nos da forma que sabia. 
Muitos que privaram comigo e outros (poucos) que ainda privam sabem o processo que vivo neste momento e desde dois anos para trás. 
Aguardo um julgamento por violência doméstica. 
O HOMEM que privou comigo, a quem dei toda e qualquer abertura, acreditando ser um homem de fé (foi isso que me fez gostar do ser humano em questão, e porque me lembrava muito o avô Rodrigo) odeia a minha mãe. Nunca gostou dela e, sim, é recíproco, ela também nunca gostou do dito cujo. Pois esse homem de quem estou separada há dois anos, há dias atrás surgiu em conversa na nossa mesa de almoço. Uma coisa perfeitamente disparatada, se não quisermos olhar pelo olho clínico do amor.
Segundo o meu filho mais novo, o Tomás, depois de nos termos separado, ele tentou "converter" ambos contra mim (os dois filhos, o Francisco e o Tomás), convidando-os separadamente para uma francesinha. Só há dias, o Tomás nos confidenciou a "pérola", ele que não é de falar das pessoas na ausência delas: "Mamã, o Ruben disse que tinha ido a uma "bruxa" amiga dele na Senhora da Hora e que a mesma lhe tinha dito que a tua mãe, minha avó não passaria dos oitenta anos de idade. "Triste sermos tão doentes e tão cheios de ódio. Pois bem, a minha mãe não lhe tem qualquer ódio, creio até que sente compaixão por saber da sua doença mental. O mesmo odeia a sua progenitora (sentimento recíproco a avaliar pelo que já ouvi da boca da senhora), não suporta estar muito tempo com os filhos, sendo que um deles sofre de síndrome de asperger e o próprio ser autista de alto rendimento, não tem e nunca teve paciência, sobretudo com este mesmo filho.  Tento analisar e perdoar e voltar a analisar e a conclusão de que chego é que ele precisa de amor. Ele não sentiu que tivesse amor filial ou materno. E sou obrigada a ir dentro de mim, às minhas reservas de amor incondicional e de compaixão pelo próximo e perdoar o mal que ele nos quer. 
Antes de sair daqui, proferiu palavras muito feias contra a Eva (contra mim foi diário durante quase dois anos e em tempos de pandemia e consequente isolamento), ameaçando-a de sentá-la no banco dos réus e a mim, diretamente, por email e telefone, disse-me que ela morreria no dia em que eu assinasse o divórcio que pedi. Estou divorciada desde o dia 25 de Outubro de 2021, sem necessidade de fisicamente assinar o mesmo. É verdade que a minha mãe emagreceu, desde esse episódio final, 22 quilos. É verdade que tem tido pouca saúde, mas também é verdade que temos, ambas, sido poupadas a vê-lo. Sobretudo eu. E a Deus em mim, agradeço, tem sido um presente diário. 
Seria hipócrita, contudo, se não dissesse o que sinto. Sinto necessidade de resolver tudo isto. Logo, desejo o julgamento como de pão para a boca, quando se tem fome. Tenho fome de justiça, de verdade, de resolução. Estou neste impasse há dois anos. Entretanto, depois de me ter separado, continuou a fazer-me dívidas por pura maldade. Compaixão, Cristina, é o que digo a mim própria. 
Depois de tudo, olho para trás e percebo melhor porque vi nele algo que ele não tem e não pode ser culpado por isso. Esta eterna vontade de colocar pessoas em pedestais terminou para mim. Ninguém tem esse poder mais, de me fazer ver inverdades e falsas qualidades. Este senhor foi criado dentro de uma igreja que, ao invés de solucionar o problema que ele viveu desde pequeno, a violência doméstica, o pai batia na mãe e o pai discutia com a mãe fê-lo acreditar que a violência era solução e a Igreja perdeu uma grande oportunidade de o curar. Poderia ter interferido pois tinha espaço para isso, aliás, os pastores sucederam-se na casa deste infeliz, poderiam ter apelado para o divórcio, mas não. Isso era solução proibida para a Igreja (nem todos os pastores da dita Igreja são assim, ao contrário, ouvi da boca do pastor da mesma Igreja dizer-lhe a ele que o divórcio para nós era a única solução e que tinha pena dele, pois, segundo ele e a esposa, já tinham dado conta que o Ruben tinha inveja de mim, ciúmes de me ver brilhar, sim é verdade e, na frente do casal de pastores, ele confessou que me tinha batido e que me pedia perdão e se eu não fosse para o divórcio que iria fazer melhor e eu dizer-lhe que não o queria mais e ele voltar ao registo dos insultos e ameaças, na frente deles)...
As igrejas precisam evoluir, subtrair das suas condutas a violência. A mesma Igreja, aqui em Penafiel, nas mãos da pastora Lúcia, mostra essa necessidade de evolução. Lembro-me de lhe ter dito a ela que o Ruben só pensava em sexo e não tinha qualquer sensibilidade comigo, que mesmo depois de me ofender sempre e a qualquer hora, ele acreditava que o meu compromisso no casamento "obrigava" aos meus serviços sexuais de esposa. E eu lhe ter dito que quando um homem ofende uma mulher, não pode desejar o amor dela. E sim, essa pastora é machista e precisa de evoluir também. Triste este apanhado no aniversário da minha mãe. Quando eu digo que a minha vida dava um filme, acreditem que não era um filme de amor. Ao contrário.
Parabéns mãe e que a sua vida se estenda com qualidade e alegria para além dos 80 anos, são os votos da tua filha que te ama muito, apesar dos pesares que temos.
Deixo aqui a confissão online. A verdade é a minha espada. 

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