País envergonhado da treta

Fui há uns dias atrás encomendar duas toneladas de lenha (se vivesse na cidade, não necessitaria, lá não é tão frio), para as lareiras. Prevendo um inverno igual ao passado, não chegarão. Onde eu queria chegar era noutro sítio que não a matança das árvores ou incêndios. Que é o de menos, se tivermos em consideração outras coisas. Como por exemplo, o sr. Bernardino que é lenhador há mais de 50 anos, nunca fez outra coisa na vida, assim como a esposa, vergam a mola todo o santo dia e nem no verão descansam! Disse ele, e muito bem, que são gastos mais de 55 milhões de contos pra campanhas etc e tal e anda o país a tinir, de bolsos furados e casaco vison. Vivam as aparências que é como quem diz: portugueses endividados, iludidos com uma saída de crise. O sr. Bernardino deve ter os seus 70 e tais. Disse ele, ainda, que na altura em que andava na tropa, já estava casado, a esposa ia ao quartel (no tempo de Salazar, pois) buscar a pensão e nunca foi incomodada. Hoje as mulheres não podem sair à rua, sem correrem o risco de ser abordadas por cavalheiros sem cavalheirismo nenhum ( e eu vou mais longe, mas não digo nada ao Sr. Bernardino sobre isto, é que as mulheres são maltratadas em casa e não só fora) e, pra além da educação que não existe ou escasseia, nem da saúde que não se tem (filas nos centros de saúde a partir das 7 horas da matina, a vergonha estende-se ao trabalho, que os desempregados de subsídios em riste são chupistas e preguiçosos, bando de ladrões e chulos, que passam horas no café a ler a coluna dos (des)empregos, só pra poderem passar na coluna das massagens ucranianas e que esses são os que vão tendo dinheiro pra café e tabaco. Porque o resto está tudo, virgem, de mal a pior, argolados e empenhados nos bancos, sem crédito a meio do mês, com colégios caríssimos pra pagar e coisa e tal, e ainda vão fazer fins de semana prolongados a estâncias termais e coisa e tal!!! O país da treta. Que bando de gente que não sabe o que é a vida!

Eu não sou salazarista. Nem anárquica. Mas acho que o senhor Bernardino deve ter razão. Porque empregos estão pela hora da morte, trabalho só pesado e mal pago e dívidas são aos magotes. Não, eu não passo fins de semana em estâncias balneares, mas tenho que contar o dinheiro e tem que bater certo ao final do mês, pra pagar à padeira, o gás, o telefone, a internet, a luz, as despesas escolares do Tomás e os meus pessoais, os cães, as galinhas, os gatos, encher o frigorífico e arca pró mês. O Sócrates não obteve a maioria e, francamente, começo a achar que os zunzuns que ouvi acerca de novas eleições não devem estar longe da verdade. Se não há ninguém qualificado pra governar o país, o melhor é importar-se massa encefálica, gente com "eles" no sítio, porque li ainda agora que a Cáritas vai dar vales refeição para uma pobreza envergonhada que se esconde, com receio de perder o pouco que lhes resta, a dignidade. Mas, se é indigno ser-se pobre, não é mais indigno ser-se rico à custa da pobreza alheia? Ocorre-me sempre uma e mesma ideia: Ou se arranjam alternativas para este país ou ele afunda e vamos achar, afinal, que não era tão mau sermos espanhóis!




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